Escolhas

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Nas últimas semanas, tive a certeza de que as mulheres estão protagonizando um momento histórico. Várias notícias de campanhas, passeatas, discussões sobre direitos, igualdade, gênero. Lendo o jornal com a Nina ao meu lado, fiquei cheia de esperanças de que, quando a hora dela chegar, vai ser mais fácil ser uma menina nesse mundo – e, a partir daí, vai ser mais fácil ser o que ela quiser ser na vida.

Aí, ontem, meu otimismo levou uma ducha gelada com uma matéria sobre as críticas pesadas às mulheres que atualmente têm filho por meio de cesárea[1].  A onda – fundamental, séria, necessária – de incentivo ao parto normal acabou gerando esse efeito colateral péssimo. Agora, além de todas as culpas que uma mulher já carrega, essas que triplicam quando a gente vira mãe, existe a culpa trazida pela patrulha ao tipo de parto que cada uma enfrenta.

Quem patrulha? Outras mulheres, outras mães, que levam suas próprias culpas e sabem bem o quanto elas pesam. O fenômeno é irmão da fiscalização ao aleitamento materno, que é primo de primeiro grau da imposição a ser “menina de família”, e por aí vamos. Obviamente, não estou dizendo dos esforços para informar, para conscientizar, para ajudar a decidir, para ampliar direitos. Estou falando de mulheres que tiram das outras esse pouquinho de opções que a gente conquistou até agora.

Eu escolhi fazer cesárea. Sem pressão de ninguém, sem imposição médica, sem urgência. Achei que seria melhor para mim e para a minha filha. O pai dela vivia em outro país por conta do trabalho e eu julguei, com os recursos que tinha, que o que mais valia para nós era a certeza de que ele ia estar com a gente na hora do parto. E aí, no dia marcado, eu estava muito tranquila. Durante a preparação para a cirurgia, dei boas risadas com os médicos e enfermeiros e, quando tudo estava pronto, o Pedro entrou na sala. Quando a Nina nasceu, ele ficou de pé, olhou por cima daquele pano azul que não me deixava ver a cena toda e chorou, e riu, e disse “ela é linda”, e falou que me amava, e pôs a minha filha no meu colo, e me encheu de carinho enquanto ela passava pelos procedimentos de rotina. E esse foi o momento mais humano e mais feliz que já vivi. E, mesmo assim, eu passei meses tentando encontrar uma desculpa para não ter que dizer que escolhi fazer cesárea. E isso não tem o menor sentido.

Ninoca, você não tem ideia do monte de mulher corajosa batalhando para você ter o direito de fazer parto normal, amamentar na rua, usar o decote que tiver vontade… ou não ter filhos, fazer cesárea, usar burca, não amamentar no peito e não se achar péssima mãe por isso. A decisão é sua, de mais ninguém. Mas veja bem o que vai fazer com ela, filha. Veja bem, hein? Vê se decide sempre com ética, responsabilidade e amor, porque é muito bom ter orgulho das nossas escolhas. Como eu tenho da minha cesárea. Como eu tenho de você, a escolha mais acertada que eu já fiz.

[1] http://mulher.uol.com.br/gravidez-e-filhos/noticias/redacao/2015/11/10/mulheres-que-fizeram-cesarea-falam-sobre-as-duras-criticas-recebidas.htm
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