Diziam que um amor louco, maior que tudo, iria me atingir assim que eu olhasse para a Nina pela primeira vez.
Não foi o que aconteceu.
Logo depois do parto, um pacotinho veio para o meu colo pelos braços do Pedro, e a primeira coisa que eu senti foi uma gratidão muito grande por estar vivendo aquele momento surreal com ele. Pelo pacotinho em si, senti algo muito forte, mas que não me parecia majoritariamente amor – uma ternura sem fim, alguma pena (nascer não deve ser fácil), um encantamento daqueles de não conseguir parar de olhar.
Sim, esse encantamento cresceu rápido. Depois que a anestesia passou, depois do cansaço dos primeiros dias, depois que eu aprendi como segurar um bebê, depois que ela abriu bem os olhos… todos os dias, a cada dia, eu sentia mais a Nina dentro de mim. Ela virou uma parte do meu corpo, meu órgão mais vital. Era uma experiência muito mais visceral do que qualquer outra coisa. Um raio, um trovão, uma onda forte…
Precisei esperar uns bons meses. Não sei precisar o motivo, mas desconfio que foi quando a Nina começou a se comunicar – a linguagem é um negócio que sempre me causou amor demais. Primeiro foram uns sonzinhos, aí os olhares, o dedinho apontando para tudo o que via, umas palavrinhas soltas, até ela chegar a ser a menina mais tagarela do mundo, mais até do que a mãe (todos juravam que isso seria impossível!). Nesse percurso, o amor chegou de vez, inexplicável, louco. A Nina passou a ser a minha pessoa preferida, minha pessoa fundamental. A companhia mais divertida e fascinante que eu já tive. Um ser humano diferente de mim, com um jeito que é dela e já não é o universal dos bebês ou um prolongamento do meu. As frases, as piadas, as demandas, o temperamento forte.
Então, o amor imenso de verdade veio, para mim, quando ficou muito evidente que nós somos duas. Quanto mais dificuldade eu tenho em compreender que aquela menininha cheia de atitude saiu de dentro de mim, mais eu amo a minha pequena. Concluí que é muito fascinante a experiência de gerar uma extensão de você mesma, mas que é infinitamente melhor sentir que você gerou uma pessoa tão melhor do que você.
Nina, Nina, Nina. Meu amor maior que tudo.