Nina saiu da escola com uma coisa pendurada no pescoço. Uma estrela enorme feita de papel colorido, impressa em um computador caseiro e plastificada, onde se lia: “Niña estrella oro” (“menina estrela ouro”, em espanhol, porque moramos no Equador). Perguntei à assistente que estava na porta do colégio de que premiação se tratava. “Não, não deve ser um prêmio, deve ser a lembrança do final da unidade que os professores entregam a todas as crianças”.
Sim, eu achei que era um prêmio. Eu tive certeza que era um prêmio. Eu estava convicta de que a Nina tinha sido eleita a menina estrela ouro. Não que eu tivesse a menor ideia do que significa ser a menina estrela ouro, mas o nome parecia condizente com a filha ouro, luz-raio-estrela-e-luar que eu, secretamente, acredito que tenho. Secretamente, porque é claro que eu não digo isso a todo mundo. É claro que quando ela é elogiada eu apenas saco a minha expressão de serenidade e sorrio discretamente. E é claro que, diante da resposta da assistente, eu concordei com um aceno de cabeça elegante, típico de uma mãe madura. Porque é claro que a gente tem que fingir que acha o filho da gente uma criança comum, mesmo sabendo que ele é uma estrela ouro – esse título fantástico.
E foi encarnando a mãe sensata que eu voltei dizendo à Nina, no carro, que estava orgulhosa de ela estar tão adaptada à escola, que ia ser ótimo ter aquela estrela como recordação dessa época. Ela, que sempre me parece muito mais sensata que eu, ignorava o que eu dizia enquanto mastigava a pontinha do que, poucos minutos antes, eu poderia jurar que era uma medalha. De ouro.
Em casa, mais tarde, assunto já esquecido, a Nina aparece na sala com um papel tirado de dentro da mochila. Um bilhete da professora: “queridos pais, hoje tivemos a entrega das medalhas aos destaques da turma nesta unidade, e gostaríamos de dar os parabéns à Nina, que, por seu empenho e comportamento, foi eleita ‘niña estrella oro’ do bimestre!”
Enquanto eu apertava a Nina até ela berrar “para, mamãe, para”, enquanto eu dizia a ela que sabia desde o início que aquilo era uma medalha exclusiva, enquanto ela me tomava à força a tal estrela de plástico mal impressa para pendurar no pescoço de uma girafa de pelúcia, enquanto eu contava a todos os familiares que minha própria filha ganhou um prêmio na escolinha de bairro da cidadezinha do interior do Equador… enquanto eu olhava para o ridículo da situação, pensava que ser mãe não tem graça se, por trás da cara de pessoa normal, você não estiver convicta de que sua filha é uma menina estrela ouro. Seja lá o que isso for.