Quando pergunto “quem é o amor da mamãe?”, a Nina levanta aquele braço gordinho e grita “eu!”. Não tem dúvida nenhuma de que é o centro do meu mundo.
Ela sabe que não há como ter dúvida. Ela sabe que é irresistível. Quando acorda, olha para a janela e diz “bom dia, passarinho. Bom dia, mar”. Quando quer atenção, abre um sorriso forçado, mostrando os dentinhos separados. Quando faz algo que não pode, sinaliza antes com um “não”, dedinho em riste, depois vai e faz mesmo assim. Quando fico brava e fecho a cara, diz “brava não”, escala meu colo e me dá um beijo. Quando entra no carro depois da escola, exclama “brincou!”, antecipando a resposta à minha pergunta diária “e aí, filha, brincou muito?”. Quando ouve uma música, qualquer música, faz uma dança engraçada em que mexe só a parte de cima do corpo e dá uns passinhos pra trás. Quando está entediada, gira até ficar tonta e cair e repete o processo até o tédio passar. Quando me vê comendo pão, grita “oba! Pãozinho”, e assim o pão que era meu passa a ser dela. Quando vai no colo de alguém de quem não gosta, dá um sorrisinho rápido e passa o resto do tempo séria, até a pessoa perceber que não está agradando muito. Quando não quer comer o que está no prato, esconde um pouquinho na bochecha e, quando ninguém está vendo, cospe. Quando encontra uma criança, exclama “neném!” e dá um abraço. Quando a criança em questão a empurra porque não quer abraço, gentilmente empurra de volta e sai para abraçar outra. Quando quer colo e eu não quero ou não posso dar, diz “saudade, mamãe”, e ganha colo imediatamente. Quando me vê chorando, traz um brinquedo. Quando me vê rindo, joga o corpo pra frente e solta um “hahaha” bem alto. Quando presencia uma discussão, fala bem rápido aquele seu idioma incompreensível. Quando nos deitamos juntas, põe a mãozinha dentro da minha para impossibilitar que eu escape sem que ela perceba.
Quando pergunto “quem é o amor da mamãe?”, é claro que ela levanta o bracinho e dispara “eu!”, sem a menor dúvida. Como, afinal, poderia haver qualquer dúvida?