Há menos de um mês, no dia mais triste da minha vida, perdi meu primo mais novo, filho do meu tio mais próximo. Perdi meu primo e vi meu tio perder um pedaço.
O espanto de uma morte que chega na adolescência, o que ficou sem ser feito, o quanto somos pequenos… esses pensamentos me ocuparam por uns três segundos. Daí pra frente, só consegui pensar no meu tio, e descobri uma dor insuportável, inaugurada com a maternidade: ser mãe é identificar-se mais com o pai que perde o filho do que com o filho que perde a vida.
A dor do meu tio atravessa, dilacera, atropela a minha. Percebi a coragem e a loucura desse negócio de ter filho, de extrair um pedaço de nós e permitir que ele circule por aí, nesse mundo que não é para principiantes.
Encontrei meu tio uma semana depois da nossa perda. A gente se abraçou, chorou, tentou rir de vez em quando. E ele teve a mesma ternura de sempre, a mesma generosidade de pegar a minha Nina emprestada, dar carinho, cuidar como cuidou de mim na minha infância. Como cuidou da minha irmã, dos meus primos, dos próprios filhos. Como cuida das crianças com quem trabalha há décadas. Concluo que pais e mães são um pouco pais e mães de todos os filhos do mundo, e choram um choro doído pelas crianças perdidas por outros pais. Concluo que algumas pessoas são pais mesmo antes de terem filhos. Concluo que pais são pais para sempre.
Pedro, querido, eu queria que você estivesse aqui com a gente. Mas toda vez que, na minha cabeça, converso com você, te digo que agora eu não consigo chorar só pela sua ausência, até porque sua vida foi tão bonita, foi tão viva, foi tão feliz! Agora, meu choro é pela ausência que a sua ausência causa no seu pai. Vou te contar um segredo: vocês se viram muito melhor sem nós do que nós sem vocês. O mundo tem pena dos pais sem os filhos, Peter! Somos infinitamente mais dependentes, mais frágeis e mais perdidos quando vocês não estão por perto.
A gente segue. Perde um pedaço, mas segue. Por nós, pelas nossas outras crianças, pelas crianças dos outros.