Chorei de desespero duas vezes em uma semana: quando descobri que estava grávida de novo e, cinco dias depois, quando descobri que já não estava mais. Assim, nessa velocidade.
Eu não tinha a menor intenção de ter um segundo filho e, de repente, um positivo. Uma noite sem dormir pensando nas dificuldades. O dia amanhece e, bom, a vida tem surpresas, a Nina ia adorar ter companhia, estou chegando aos quarenta, o Pedro queria outro filho. As coisas se ajeitam. Haja fôlego.
Inchaço no corpo, gosto de guarda-chuva na boca e enjoo – o maravilhoso mundo da gestação. Muitas cólicas. Já fui grávida antes, essa parte não era bem assim. Ultrassom pro dia seguinte. É preciso ser veloz.
“A natureza terminou a sua gravidez. É muito comum e, se você tivesse esperado mais uns dias para fazer o teste, nem teria ficado sabendo e confundiria as cólicas e o sangramento com a menstruação. Muitas mulheres passam por abortos espontâneos ao longo da vida sem saber. Absolutamente natural”. Desço da maca e choro. Velocidade da luz.
Perder o que eu não queria ou perder o que queria mas não sabia. Passar por isso em um lugar em que o aborto é legalizado e perceber que minha cabeça de um país em que o aborto é proibido me fez, mais do que triste, culpada. Rever minhas certezas. Não entender nada e, em uma fração de segundos, entender melhor. Voltar com a vida pro lugar depois de uma semana surreal. Curar a aspereza do real vendo a beleza – força e delicadeza – de uma experiência tão feminina.
Sim, nessa velocidade.