Você sabia que existem youtubers mirins? Tal como nos canais adultos, as crianças fazem vídeos mostrando suas rotinas, principais atividades, brincadeiras e também produtos, como brinquedos e alimentos.
Canais brasileiros e estrangeiros têm feito muito sucesso entre as crianças, que muitas vezes assistem aos vídeos sem o acompanhamento dos pais. Alguns modismos entre os pequenos surgem exatamente dos produtos que são mostrados nesses canais.
A maior parte das críticas é direcionada aos vídeos de unboxing. Basicamente, são vídeos em que youtubers abrem os produtos e presentes que recebem de empresas ou marcas e mostram ao público. Como é um comportamento comum entre os adultos, youtubers mais jovens também começaram a replicar essa prática. Dessa forma, entende-se que a empresa ou marca ganha visibilidade e publicidade com um custo extremamente baixo.
O grande problema dessa prática é a dinâmica de publicidade, que apresenta um agravante: na TV, ela é controlada e deve seguir a legislação; enquanto na internet, ainda não há regras para isso.
Para falar sobre esse assunto, convidamos a psicóloga infantojuvenil e psicopedagoga Fátima Hemétrio. Confira!
ABDQT – Como você vê o fenômeno de youtubers mirins?
Fátima H.: Precisamos ter cautela com a exposição de crianças no youtube para que os direitos da criança e adolescentes não sejam violados e estejam de acordo com o ECA (Estatuto da Criança e Adolescente).
Estes canais devem ser criados e gerenciados pelos pais ou responsáveis das crianças, que devem também participar e cuidar para que seus filhos estejam protegidos, uma vez que o número de visualizações é grande e os youtubers mirins atraem a atenção do mercado e começam a atuar como promotores de venda.
ABDQT – Quais os aspectos positivos e negativos dessa prática, tanto para as crianças que fazem os vídeos quanto para as que assistem?
Fátima H.: De negativo há uma publicidade infantil velada, a vulnerabilidade das crianças, rotinas exaustivas, a violação dos direitos das crianças e a exploração infantil. Além de desenvolver o baixo limiar à frustrações, com vista em fama, sucesso, consumismo e excessos.
De positivo, há a questão da criança que faz o canal apenas para se satisfazer, como ato lúdico e divertido, sem interromper sua infância. A fama, sucesso e o retorno financeiro seriam apenas uma consequência que fica em segundo plano. Além de desenvolver a linguagem e a desinibição.
ABDQT – Como dosar o acesso às tecnologias para as crianças?
Fátima H.: O tempo de acesso deve ser sempre limitado, de acordo com a idade da criança. Deve-se ficar atento à indicação por idade dos vídeos, sempre com gerenciamento e monitoramento pelos pais e responsáveis.
ABDQT – Quais são as melhores opções de entretenimento e tipos de brincadeira?
Fátima H.: Brincadeiras ao ar livre que envolvam criatividade raciocínio lógico, como os jogos de tabuleiros, os blocos lógicos, quebra-cabeça, o adivinha, desenho e pintura, tudo que envolva o faz de conta. Essas atividades vão possibilitar que as crianças socializem com outras pessoas e desenvolvam noções de cooperação e compartilhamento. Brincadeiras são a melhor forma de exercício físico para as crianças, fundamentais na melhoria da coordenação motora e no desenvolvimento infantil.
ABDQT – Por que os pais devem ficar atentos à exposição dos pequenos à publicidade de brinquedos e alimentos?
Fátima H.: Os pais devem ficar atentos às leis do Código de Defesa do Consumidor, na Constituição e no ECA. A criança deve ter prioridade absoluta, com respeito ao seu espaço e sem exploração. Brinquedos e alimentos inapropriados devem ser oferecidos de acordo com a faixa etária. A exposição aos vídeos publicitários pode levar ao consumismo exacerbado, ao superficialismo, a relações sem vínculo afetivo e ao excesso do ter em detrimento do ser. Sem contar as questões de compulsão alimentar e obesidade infantil.
Acesso à tecnologia
Excluir o acesso às tecnologias nem sempre é possível, mas é importante controlar o acesso dos pequenos e, principalmente, monitorar o tipo de conteúdo que eles olham nas redes sociais. No nosso blog, você encontra artigos sobre a tecnologia na infância e dicas para lidar com essa relação da melhor forma possível.
YouTube Kids
Recentemente, a Google lançou o YouTube Kids, um aplicativo gratuito voltado para as crianças assistirem vídeos e canais. O conteúdo pode ser filtrado e os pais ou responsáveis optem por excluir ou não o mecanismo de pesquisa do aplicativo, para que as crianças vejam somente conteúdos pré-selecionados.
Mesmo com os filtros, as crianças também estarão expostas à publicidade, portanto, é bom acompanhar os canais que eles assistem mesmo por meio do app.